Por Casa 1
Na
terça-feira (7), a Câmara de São Paulo aprovou um projeto de lei que
regulamenta a nomeação de uma rua na Zona Sul da capital em homenagem à Xica
Manicongo. Se aprovado pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB), a via será a primeira
em São Paulo com o nome de uma travesti. A autora do PL foi Erika Hilton
(PSOL), primeira mulher trans a ocupar uma cadeira na Câmara de São Paulo e a
vereadora mais votada em 2018. Veja a justificativa do projeto 566/2021
completa. “Xica Manicongo foi a primeira travesti não indígena do Brasil.
Trazida sequestrada da região do Congo, pertencente à categoria das quimbandas
de seu povo, sua expressão de gênero era lida pelo colonizador como feminina.
No
Brasil, foi submetida à condição de escravizada na Bahia, tendo seu trabalho
explorado por um sapateiro. No entanto, Xica recusava-se a utilizar o nome
masculino que lhe foi imposto, ao mesmo tempo em que seguia vestida em seus
trajes femininos, tal qual em África. Por anos, a historiografia retratou Xica
enquanto Francisco, assassinando seu direito à memória. Somente com o movimento
de travestis e pessoas trans na academia que foi possível trazer a verdade
sobre a história de Xica Manicongo, atribuindo-lhe o título de primeira travesti
brasileira não indígena. Xica Manicongo representa a luta das travestis
brasileiras pelo seu direito à memória e reconhecimento e por isso é importante
homenagear sua luta e existência. “
QUEM
FOI XICA MANICONGO?
Considerada
a primeira travesti do Brasil, Xica foi uma pessoa escravizada que viveu em
Salvador e trabalhou como sapateira na Cidade Baixa, segundo registros de
documentos oficiais arquivados em Lisboa, Portugal. Seu sobrenome, Manicongo,
era um título utilizado pelos governantes no Reino do Congo para se referir aos
seus senhores e às suas divindades. Dessa forma, podemos então traduzir o nome
dela como “Rainha ou Realeza do Congo”.
No
século XVI, as normas e regras de cisgeneridades eram ainda mais rígidas, mas
Xica se recusava a usar vestimentas consideradas masculinas para a época e a se
comportar “como um homem”. Por conta desta resistência, ela foi acusada de
sodomia e julgada pelo Tribunal do Santo Ofício, instituição eclesiástica
responsável por punir judicialmente crimes de “heresia”. Além destas denúncias,
ela também foi acusada de participar de “uma quadrilha de feiticeiros
sodomitas”.
Xica
Manicongo foi condenada à pena de ser queimada viva em praça pública e ter seus
descendentes desonrados até a terceira geração. Sufocada pela pressão social e
para fugir da pena, ela abdicou de suas roupas e adotou o estilo de vida direcionado
aos homens da época. Foto de capa: Reprodução/Capa do cordel “Sertransneja”,
que traz uma gravura que representa Xica Manicongo. Fonte Casa1.