domingo, 19 de outubro de 2014

QUASE 140 MIL ALUNOS DEIXAM ENSINO PRIVADO NA BAHIA

Por Clóvis Gonçalves
A Secretaria da Educação do Estado da Bahia informa que no ano letivo de 2014, foram matriculados na rede estadual de ensino 138.613 novos alunos dos ensinos fundamental e médio, egressos das redes particular e municipal.

O aumento de mensalidades de escolas particulares muitas vezes não é compatível com os salários dos pais, o que vem motivando a migração de alunos destes colégios para escolas da rede pública. A Secretaria da Educação do Estado da Bahia informa que no ano letivo de 2014, foram matriculados na rede estadual de ensino 138.613 novos alunos dos ensinos fundamental e médio, egressos das redes particular e municipal.

De acordo com a Assessoria de Comunicação da secretaria não tem como identificar precisamente quem veio da rede particular ou da municipal, mas assegura que a partir da matrícula de 2015 será possível identificar, por meio do Sistema de Gestão Escolar (SGE), a origem do aluno por rede de ensino. A rede estadual de ensino tem, atualmente, 981 mil estudantes matriculados em 1385 escolas.

Já a presidente do Sindicato de Estabelecimentos de Ensino do Estado da Bahia (Sinepe), órgão dirigente das escolas particulares, Maria Augusta de Oliveira Sena, disse que não houve muita migração de alunos, neste ano, “muito pelo contrário, alguns vieram de escolas públicas devido às frequentes greves de professores”, declarou, mas não soube precisar números.

Segundo ela, a evasão de escolas particulares para públicas ocorrem mais nos grandes centros, como Rio de Janeiro e São Paulo, mas na Bahia os pais fazem de tudo para manter os filhos em escola paga: “Com tantas greves aqui na rede pública, não chegam a fechar o ano letivo, fazem qualquer sacrifício para manter os filhos na rede particular”, afirmou.

Em relação ao aumento da anuidade, a dirigente do Sinepe voltou a declarar que este ano os custos foram muito altos porque “o IPTU subiu 300%, a energia elétrica, a água também. E o governo impõe que se faça rampa nas escolas, mesmo que não tenha alunos de necessidade especiais, quer que tenha biblioteca e que seja renovada em 5% todo o ano”.

Mas destacou que cada escola realiza seu próprio cálculo de reajuste levando em conta os seus gastos com melhorias e salários dos funcionários, que deve ser especificados em planilhas enviadas aos pais para análise do repasse destes valores na anuidade escolar, mas que as escolas baianas ainda não aprontaram as planilhas.

Pais apontam dificuldades em relação aos gastos deste ano como o aumento do IPTU 300%, luz, água e sem um reajuste salarial que dê para cobrir as despesas, como é o caso da secretária Maria Helena Santana que tem dois filhos em escola particular, no ensino fundamental e gasta R$ 800 com os dois filhos, em uma escola em Brotas (preferiu não dizer o nome).

“Assim mesmo porque tem abatimento por se tratar de dois irmãos e estudarem há cinco anos na mesma escola. Mas estamos preocupados com o aumento que vai ter, ainda não recebemos a planilha para justificar o aumento, mas de antemão já sabemos que com o aumento do IPTU em 300% a anuidade vai subir muito”, revelou, antecipando que fará de tudo para manter os filhos em escola particular, mesmo que seja uma mais barata.

Para o doutor em Antropologia Roberto Albergaria, geralmente a troca se dá por dois motivos: perda de emprego dos pais ou separação. E o impacto da troca de escola particular para pública é muito maior que o adulto imagina no jovem, principalmente em adolescentes porque o status e o prestígio vêm do bairro que mora e a escola é o suporte do jovem, o do adulto é o trabalho.

“A escola tem a função de marcador de status, se estuda em escola classe A e matriculado em curso de inglês, no play ele tira onde. Mas quando é transferido de escola em primeiro lugar se sente humilhado. O impacto psicológico é grande e a relação com os pais muda, pois os pais são a sua referência”, sinalizou.

De acordo com Albergaria, além da escola ser agente de prestígio: rede de amigos, paqueras, vai se sentir frustração por deixar de ser convidado para festas pelos amigos. “Além de tudo, ele sabe que se for para escolas públicas vai sentir que o futuro está comprometido e se sentir um peixe fora d’água”.


O antropólogo explica que esta situação ocorre porque o mundo dos jovens é um mundo egoísta que se resume em amigos do play e das escolas. “Em termos subjetivos este mundo é imenso. Para exemplificar cito suas escolas vizinhas no Costa Azul, a Portinari, particular, e a Thales de Azevedo, pública. Os da particular evitam os alunos da pública e nem paquera rola por mais atraentes que sejam os da outra escola”, afirmou. (Tribuna da Bahia.)