Por Clóvis Gonçalves
Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) terão, em
Aparecida, encontro promovido pela CNBB. E discutirão temas caros à igreja.
Os candidatos à Presidência da República têm nesta terça-feira seu
terceiro encontro marcado, em debate promovido pela Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB) e pela TV Aparecida. Além de
assuntos como saúde, educação, habitação, reforma agrária e reforma
política, as perguntas elaboradas para os presidenciáveis em colaboração com
mais de 350 bispos tratarão de temas caros à Igreja Católica, como a questão do
aborto. O cardeal-arcebispo de Aparecida, Dom Raymundo Damasceno Assis,
presidente da CNBB, afirmou nesta segunda-feira em entrevista coletiva que
o objetivo do debate é dar oportunidade para os candidatos exporem seus
projetos, de modo a esclarecer os eleitores, especialmente os católicos, a
respeito do que pensam e do que pretendem no governo do país.
O evento terá início às 21h30 e será transmitido ao vivo por oito
emissoras de inspiração católica, 230 rádios e pelos portais católicos. O
mediador do debate será o jornalista Rodolpho Gamberini, da Rede Aparecida de
Comunicação. Mais de 350 bispos da CNBB foram convidados para o
evento. "Não haverá pegadinhas com perguntas que possam lançar um
candidato contra outro, porque à Igreja Católica só interessa a exposição
transparente dos pontos de vistas de cada um, numa discussão respeitosa e
esclarecedora das principais questões nacionais, algumas delas ainda não
levantadas nos debates anteriores", disse Dom Damasceno.
O debate será coordenado pela TV Aparecida e retransmitido pela
rede católica de comunicação, formada por canais de televisão, emissoras de
rádio e sites espalhados por todo o Brasil, capaz de atingir 90% dos
142,8 milhões de eleitores de todas as regiões. Oito candidatos cujos
partidos têm representação no Congresso confirmaram presença. Dividido em
cinco blocos, o debate se iniciará com uma pergunta única de Dom Damasceno,
dirigida a todos os candidatos. No segundo bloco, oito bispos dirigirão
perguntas aos oito candidato presentes, que serão sorteados na hora para
responder. No terceiro bloco, jornalistas da mídia católica farão perguntas aos
candidatos e no quarto bloco os candidatos debaterão entre eles. O quinto e
último bloco será para considerações finais.
"Os oito bispos convidados a participar do debate pela direção da
CNBB já gravaram suas perguntas e representam diferentes regiões do
Brasil", disse Dom Damasceno, esquivando-se de revelar os nomes dos
bispos e o conteúdo das questões levantadas. "É para evitar
pressões", justificou. Como a preocupação da Igreja é conhecer o que cada
candidato pensa a respeito de valores éticos e morais da vida cristã, é
provável que sejam tratadas questões como a defesa da vida (aborto),
violências, salários e justiça social. O bispo Dom Geraldo Lyrio Rocha
disse em entrevista à TV Aparecida que o debate servirá para que os candidatos
“possam responder qual é a posição deles a respeito da defesa da vida, desde o
primeiro instante até o seu término natural”.
Pesquisa Datafolha divulgada em 11 de
setembro mostra que a presidente-candidata Dilma Rousseff (PT) lidera as
intenções de voto entre os católicos - que representam cerca de 60% do
eleitorado no país -, com 40% das intenções de voto. Marina Silva, do PSB, tem
29% e Aécio Neves, do PSDB, 17%. Colaboradores da campanha de
Marina esperam um debate "morno". Ela deve insistir no
discurso que tem um programa de governo - "ao contrário" de Dilma e
Aécio - e que por isso vem sofrendo ataques. Os coordenadores de Marina
acreditam que não haverá "clima" para um debate acalorado na CNBB e
que as perguntas devem girar em torno de temas como casamento gay e aborto. No
máximo, dizem os aliados, os adversários podem explorar o fato de Marina ser
seguidora da Assembleia de Deus. "Eles vão tentar expor o lado evangélico
da Marina, dizer que eles são católicos", avaliou o responsável pelo
comitê financeiro, deputado Márcio França (PSB-SP). Na corrida eleitoral
de 2010, Dilma enfrentou
resistência entre o eleitorado católico e evangélico em decorrência de
controvérsias sobre sua posição em relação à legalização do aborto.
Naquele ano, a questão do aborto tornou-se um dos temas centrais da
campanha. Já em 2014 a questão do casamento gay ganha contornos cada vez
mais relevantes nos discursos dos candidatos, sobretudo depois de Marina
alterar em seu programa de governo os pontos que tratavam do tema. (Com
Estadão Conteúdo)