"O ídolo dele era o pai", afirma antigo vizinho
Clóvis Gonçalves 18/4/2014
Bernardo com o
casal em sua primeira comunhão em janeiro deste ano
“Dócil, meigo, inteligente e vidrado no pai”. É assim que o menini
Bernardo Boldrini, de 11 anos, encontrado morto
nesta segunda-feira no interior do Rio Grande do Sul, foi descrito
pelo casal que o acolhia pelo menos duas vezes por semana nos últimos
anos. À Justiça gaúcha, Bernardo chegou a manifestar o desejo de ser adotado
por Carlos José Petry e Juçara Ribeiro Petry, antigos vizinhos de sua
família em Três Passos (RS). Segundo o casal, porém, o
sonho de Bernardo era receber atenção do pai, o médico
cirurgião Leandro Boldrini. Órfão da mãe, morta em 2010, Bernardo morava com o pai
e a madrasta, Graciele Boldrini. Os dois estão presos, suspeitos do crime,
assim como a assistente social Edelvania Wirganovicz, amiga deles. O pai
nega.
“O ídolo dele [Bernardo] era o pai. Ele passava bastante tempo
conosco, por isso nos indicou para cuidarmos dele. Mas quem ele queria mesmo
era o pai”, disse Petry ao site de VEJA.
No fim do ano passado, Bernardo procurou a Justiça gaúcha para
relatar que não recebia afeto do pai e que era agredido verbalmente pela
madrasta. Em audiência com o juiz, o pai reconheceu que passava muito
tempo no trabalho e propôs uma reconciliação com o garoto. Segundo Petry,
o garoto ficou "irradiante, muito feliz" com a possibilidade de reaproximação.
“Às vezes, ele chegava a nossa casa e dizia que o pai estava muito
ocupado, salvando vidas no consultório”, relata Petry.
O empresário e sua esposa, donos de uma confecção no interior
gaúcho, conheciam Bernardo desde pequeno. Eles acompanharam o crescimento
do menino, desde a época em que a mãe dele, Odilaine Uglione, era
viva. Ela morreu com um tiro na cabeça em fevereiro de 2010. O
inquérito policial concluiu que ela se suicidou aos 32 anos.
“Quando a mãe morreu, ele se afastou um pouco da gente. Ela cuidava
muito bem dele. Mas depois ele voltou a frequentar nossa casa. Passava pelo
menos dois dias por semana com a gente”. Quando não estava estudando, Bernardo
gostava de passar o tempo livre cozinhando com Juçara. “Ele a acompanhava em
todo lugar. Ficavam preparando pães e bolos na cozinha. Às vezes, eu também o
levava para pescar”, disse Petry.
Chocado com a tragédia, Petry diz não se conformar com o que aconteceu e
evita acusar alguém pelo crime. “Ele nunca falou mal dos pais. Só dizia
que o pai estava sempre trabalhando”, disse. O casal acompanhou
Bernardo em sua primeira comunhão em janeiro deste ano. O pai não estava
presente. Uma foto em que aparece o menino com o casal na igreja foi publicada
no perfil do Facebook de Bernardo.
Morte – Na
última semana, o garoto foi dado como desaparecido pelo pai. A Polícia Civil
passou a investigar o paradeiro e chegou à assistente social Edelvania
Wirganovicz, que apontou o local onde haviam enterrado a vítima, um matagal
próximo a um riacho em Frederico Westphalen (RS), a 80 quilômetros de Três
Passos. Depois disso, os investigadores encontraram indícios de que a
madrasta e a assistente social estiveram com o menino na cidade em 4 de abril –
mesmo dia de sua morte, segundo a certidão de óbito.
O crime chocou a pequena cidade de Três Passos. Nesta quarta-feira, a
casa, onde morava o garoto com o pai e a madrasta, amanheceu com cartazes
pendurados no portão. Neles, estavam escritos mensagens de solidariedade e
pedidos de justiça.
“Nós até agora não entendemos o que aconteceu. Perdemos alguém que
amávamos muito. O que podemos dizer agora é que com a gente Bernardo era muito
amado”, disse Petry.(Veja)