sexta-feira, 20 de junho de 2025

O SINAL VERMELHO DE JERÔNIMO, A CRESCENTE REJEIÇÃO AO PT E A DISPUTA ENTRE PCdoB E PSOL NA GREVE DOS PROFESSORES

 Por Correio

Governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues Crédito: Marina Silva/CORREIO.

Uma pesquisa quentinha, recém-saída do forno, provocou pânico no governo de Jerônimo Rodrigues (PT) e tem tirado o sono de caciques da base petista. Os resultados, tanto no levantamento quantitativo quanto, principalmente, no qualitativo, assustaram o grupo e expuseram uma insatisfação muito acima do normal com o governo. A gestão de Jerônimo foi considerada "péssima, medíocre e caótica", conforme apontam os dados da quali aos quais a coluna teve acesso, enquanto o governador foi apontado como "despreparado, irresponsável e sem conhecimento", confirmando, inclusive, o que já vem sendo mostrado em outras pesquisas. A crise de imagem e a rejeição de Jerônimo parecem se aprofundar.

ALAVANCAR PARADA

A situação se agrava ainda mais pela condição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principal alavanca eleitoral dos governos petistas na Bahia nos últimos anos, em especial na eleição de Jerônimo, em 2022. A gestão do cacique-mor petista tem visto sua rejeição aumentar nos últimos dias, segundo diversos institutos de pesquisa. Inclusive, em sondagens internas na Bahia, a própria cúpula petista já percebeu que o presidente não deve ter o mesmo poder de influência devido à queda brusca registrada em sua popularidade no interior baiano, até mesmo em cidades menores.

QUEDA BRUSCA

Um prefeito aliado de Jerônimo resolveu fazer uma pesquisa para avaliar sua gestão e, também, a atuação do governo do estado na cidade, que tem em torno de 20 mil habitantes. O resultado, para ele, foi muito positivo, mas para Jerônimo foi tenebroso. O governador viu sua intenção de voto cair quase 30 pontos percentuais, comparando o levantamento de agora com a eleição de 2022, quando o petista venceu na cidade com facilidade. O prefeito, que já desconfiava da má avaliação de Jerônimo, já avisou a parlamentares da base.

DIFICULDADE

O deputado estadual Fabrício Pancadinha (Solidariedade) deve ter dificuldade para conquistar a reeleição no próximo ano. Em Itabuna, principal base do parlamentar, o prefeito Augusto Castro (PSD) vai lançar a primeira-dama Andrea Castro na disputa por uma cadeira na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba). Além disso, com a adesão do deputado à bancada petista, a oposição na cidade também deve abandonar o projeto do parlamentar. Inclusive, o grupo oposicionista em Itabuna deve lançar um nome para a disputa pela Alba. Entre os especulados, estão o ex-vice-prefeito Enderson Guinho e o vereador Danilo Freitas, ambos do União Brasil. Lideranças locais dizem que a derrota de Pancadinha já é dada como certa. "Foi um movimento de suicídio político", disse um líder partidário. Pancadinha, inclusive, vem sendo muito criticado na cidade por conta da mudança de posicionamento, tanto por antigos aliados quanto por sua própria base de apoio.

DISPUTA POLÍTICA

A greve dos professores em Salvador, conduzida pela APLB, tem como pano de fundo uma disputa intensa entre PSOL e PCdoB por maior influência na categoria. Lideranças políticas de ambos os partidos estão em rota de colisão, o que tem levado à continuidade do movimento. Por um lado, os principais dirigentes da APLB são ligados ao PCdoB, enquanto outras lideranças da greve, como Denise Souza, esposa do deputado estadual Hilton Coelho (PSOL), disputam o protagonismo do movimento. A briga partidária não só evidencia que a greve é meramente política como mostra que, na verdade, os interesses dos professores e muito menos a melhoria da qualidade do ensino não são prioritários para as lideranças grevistas. Quem perde com isso são os alunos e seus familiares.

CONSTRANGIMENTO

Aliados de Jerônimo Rodrigues continuam se queixando do tratamento hostil e da falta de atenção do governador. Nesta semana, em Itamari, no Médio Rio de Contas, o petista causou um enorme constrangimento com o prefeito Dr. Tom (Avante), que integra a sua base. No palanque, Jerônimo fez um afago ao ex-prefeito Kçulo Menezes, ferrenho adversário de Dr. Tom, e mandou um recado para o atual gestor: "Senta na cadeira, Tom. Vá governar o povo, olhe pra frente", disse, em resposta às trocas de farpas entre os dois grupos na cidade. A fala não foi bem digerida pelo grupo do prefeito, que se queixou do governador.

GUERRA FRIA

O clima é de guerra fria entre deputados estaduais e secretários do governo Jerônimo que pretendem disputar as eleições em 2026. Isso porque, na disputa antecipada por territórios e apoios eleitorais, os secretários atropelam articulações de deputados e vão direto às bases, oferecendo recursos sem precisar mediação do parlamentar em exercício ou ainda travam a liberação de obras que teriam suas digitais. Assim, a convivência dentro da base vai virando uma verdadeira torre de Babel, onde ninguém se entende e todo mundo se ataca. Dizem que, se o governador não tomar pulso para controlar a situação, a articulação, que já anda cambaleante, pode definitivamente sair dos trilhos, uma vez que muitos deputados se sentem sabotados pela articulação do próprio Executivo.

CONSELHÃO

Por falar em liberação de recursos, inquietou os bastidores esta semana os rumores de que o governo Jerônimo deve criar uma espécie de ‘conselhão’ para deliberar pagamentos. Por ora, a informação que circula aponta para um colegiado formado pelos principais secretários do governador, a quem caberá fazer um filtro do que deve ou não ser liberado a depender do rumo das articulações políticas de olho em 2026 - premiando aliados mais fiéis e estrangulando os que saírem da linha. O ‘conselhão’ deve começar a operar a partir do segundo semestre, após os festejos juninos, quando o governo vai aumentar ainda mais as ofensivas eleitorais.

AO VIVO

Na correria para encerrar a última semana de trabalhos antes do São João, a presidente da Assembleia Legislativa, Ivana Bastos (PSD), deu um chega para lá na sua assessoria de plenário, sem a menor cerimônia. Durante a sessão, com o microfone aberto, Ivana declinou de um jeito nada gentil das orientações sobre o rito da sessão, que requeria a aprovação de atas antes de entrar de fato nas fases seguintes de pronunciamentos e votação de projetos. Detalhe, tudo ao vivo pela transmissão da TV Assembleia no YouTube.

MEME JUNINO

O deputado estadual Matheus Ferreira (MDB), filho do vice-governador Geraldo Júnior (MDB), virou motivo de piada depois de usar o plenário da Assembleia Legislativa para se associar a críticas de integrantes do PT e do PSOL à prefeitura de Salvador. Assim que encerrou o discurso, o emedebista ficou ligeiramente desconcertado ao ser perguntado por qual motivo mesmo estava encampando o movimento das legendas responsáveis por colocar seu pai no vergonhoso terceiro lugar na disputa pela prefeitura em 2024. O emedebista júnior só percebeu quando já era tarde. Virou meme na saída dos parlamentares para o São João.

MEU PASSADO ME CONDENA

Os convênios e contratos eleitoreiros firmados pelo governo do estado em 2022, ainda na gestão de Rui Costa (PT), prometem trazer ainda muita dor de cabeça à cúpula petista. Uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) identificou uma série de irregularidades em contratos de obras públicas firmados pela Conder. O levantamento analisou uma amostra de quase R$ 180 milhões em contratos, entre 2022 e 2023, e apontou problemas técnicos nos projetos, falhas em licitações, sobrepreço, superfaturamento e deficiências na fiscalização. Do que foi apurado até agora, o sobrepreço e o superfaturamento superam a casa dos R$11,5 milhões. Os auditores, inclusive, sugerem que o caso seja encaminhado ao Ministério Público.

BAHIA COM FOME I

Uma auditoria do Tribunal de Contas do Estado revelou falhas graves na operação da Política de Segurança Alimentar e Nutricional e na execução do programa Bahia Sem Fome, principal bandeira do governador Jerônimo Rodrigues (PT). Em 2024, 90 cidades baianas não receberam por parte do governo estadual nenhuma medida de combate à fome, enquanto outros 289 municípios receberam apenas uma ou duas ações, o que, segundo os auditores, evidencia a falta de articulação e o alcance limitado do programa. Por outro lado, o Bahia sem Fome também negligenciou municípios com maior índice de vulnerabilidade social (como São José da Vitória, Gongogi e Pau Brasil), enquanto concentrou ações com melhores indicadores sociais, como Salvador e Lauro de Freitas.

BAHIA COM FOME II

Outra revelação que o TCE trouxe foi de que o governo Jerônimo não tem sequer um restaurante popular no interior do estado, apesar de haver um programa do governo federal para a implantação de restaurantes populares em cidades com mais de 100 mil habitantes - o que deixa pelo menos 17 cidades baianas habilitadas. Hoje, na gestão de Jerônimo, apenas dois restaurantes funcionam em Salvador e ainda assim mediante pagamento de tarifa mínima. Em outra ponta, a prefeitura já vai com dez unidades, fornecendo diariamente alimentação de graça. Fonte: Correio.