Por Portal Massa
Casos estão sendo investigados pela Polícia Civil
Um
psicólogo foi preso em flagrante nesta última sexta-feira (14 de fevereiro), na cidade de
Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, suspeito de abusar de pacientes
durante consultas. A prisão foi efetuada por equipes da Delegacia Especializada
no Atendimento à Mulher (DEAM/Camaçari). "Na primeira sessão, eu já achei
estranho ele tentar se aproximar muito. Não entendia o porquê de estar tão
perto. Questionei, mas ele disse que fazia parte do procedimento, que era
necessário para causar 'sensações'. Ele repetia isso muitas vezes. Fui embora e
logo ele me mandou uma mensagem no celular, dizendo que poderíamos manter uma
conversa virtual também. Hoje, em mais uma consulta, ele veio me acariciar,
tentar passar a mão em mim. Foi nesse momento em que eu gritei pedindo ajuda e
a polícia chegou a tempo", contou. O profissional foi identificado como
Francis Santana, de 34 anos. Ele atuava em uma associação de moradores no
bairro do Gravatá, oferecendo atendimento gratuito a pessoas em situação de
vulnerabilidade e sem condições de arcar com um atendimento psicológico.
MAIS VÍTIMAS
Esse,
no então, não foi o único caso. Após prisão de Francis, outras mulheres também
tiveram coragem de denuncia-lo. Jana Viana foi uma delas. Em entrevista ao
Grupo A TARDE, ela relembrou, com tristeza, as consultas invasivas que o
psicólogo mantinha. "Comecei a fazer consulta em dezembro de 2023 quando
eu perdi meu bebê. Estava bem debilitada por conta da perda. Marcamos a
primeira consulta e fui no consultório. Chegando lá, ele pediu para eu deitar
em um sofá. Até então, achei normal. Depois ele mandou eu mostra-lo qual parte
do meu corpo eu não gostava e fez uma "dinâmica" com massagens nesses
locais. Massageou meus pés e comecei a me sentir desconfortável e pedi para
parar", contou.
Porém,
as ações não terminaram por aí. Agindo da mesma forma, ele mandou mensagem no
WhatsApp de Jana para que as consultas continuassem, orientando que fossem de
forma online. "Me pediu fotos que eu mais gostava para que ele pudesse
colocar na minha pasta. Enviei fotos normal do meu dia a dia. Marcamos a
segunda consulta por chamada de vídeo, foi quando eu realmente vi que tinha
algo errado. Não era uma chamada normal. Ele pediu para que eu deixasse meu
celular parado em algum lugar que ele conseguisse ver meu corpo todo e pediu
para que eu abaixasse a roupa, dizendo que era consulta de autocuidado. Mandou
eu pegar um espelho e tocar meu corpo. Por várias vezes na consulta eu reclamei
sobre isso. Falei que eu estava procurando cuidados porque estava debilitada
por conta da minha mente e não do meu corpo", desabafou.
TRAUMAS IRREVERSÍVEIS
Francis
Santana tinha uma perfil preferido: mulheres vulneráveis, que tinham acabado de
passar por algum trauma. Ao invés de ajudar, para J.C [que preferiu não ser
identificada], os traumas só se intensificaram. Após passar pela consulta com
ele em 2024, ela diz que não consegue mais fazer atendimento com nenhum médico.
"Eu fui procurar ajuda psicológica porque eu passei por um processo
depressivo entre 2019 e 2020, em que paralisou todo o meu corpo, inclusive a
minha fala. Nisso, eu comecei a fazer uso de medicamento através do psiquiatra
e pelo SUS. Só que para conseguir um psicólogo bom era mais difícil e eu não
tinha condições de arcar. Com isso, me apresentaram a associação que ele
trabalha. Cheguei lá e fui muito bem recebida pela recepção. Fiz uma ficha e
fui para a sala dele. Quando eu entrei para sala logo de imediato eu achei
estranho, porque ele trancou a porta", relembra em entrevista ao Grupo A
TARDE.
Foi nesse momento que a jovem, que tinha 23 anos na época, começou a perceber a maldade. "Ele pediu que eu sentasse e começou pedir pra me explicar sobre o que estava acontecendo comigo. Eu falei, mas vi que ele não dava importância para o que eu estava falando. Do nada ele começou falar elogios, como ele já fez com outras vítimas. Começou a dizer que eu era linda, maravilhosa e várias outras coisas. Depois, ele pediu que eu deitasse numa maca que tem na sala dele. Ficou me tocando". Ainda de acordo com ela, "depois ele pediu que eu abrisse minhas pernas. Eu achei estranho, fiquei desconfortável. Ele viu a minha cara de desconforto. No que ele começou a me tocar, eu tentei fechar as pernas. Ele mandou eu ficar calma. Me levantei e não quis mais sentar em lugar nenhum. Ele me deu um papel para preencher o retorno, mas eu nunca mais quis voltar. Tinha certeza que isso não era normal. Agora, tenho mais traumas e não consigo mais fazer consulta com ninguém. Eu tenho nojo dele e nojo de tudo que aconteceu". Em nota, a Polícia Civil confirmou a prisão do psicólogo pelo crime de "violação sexual mediante fraude. Oitivas e diligências estão em andamento para esclarecimento do fato". O psicólogo segue à disposição da Justiça.