sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

OS ARTISTAS DA MÚSICA BAIANA TIRAM ESPAÇO DOS BAMBAS DO CARNAVAL?

Por Clóvis Gonçalves

Ivete Nestor
Quinta-feira (4/2) é o dia do samba tomar da conta do Circuito Osmar, no Campo Grande. A tradição, consolidada ano após ano, foi posta em xeque em 2016, quando os artistas do ritmo se viram obrigados a disputar público e espaço com nomes de peso do axé, como Bell Marques e Ivete Sangalo. Patrocinados pelo governo do Estado, as estrelas desfilaram sem cordas e, como era de se esperar, arrastaram um grande número de pessoas.
Diante disto, fica a pergunta: A quinta de Carnaval é mesmo do samba? Na opinião de Vadinho França, 60 anos, presidente do Alvorada, sim. Para ele, este é um espaço conquistado pelos bambas e por grupos como o seu, que há 41 anos participa da folia.
Bell Nestor
Foto: Nestor Carrera/Aratu Online
Contudo, ele tem as suas ressalvas ao falar das mudanças: “Acho que o samba tem a sua marca consolidada, não precisava de Bell e Ivete no seu dia, apesar de serem grandes artistas. Se a ideia era trazer público para o nosso ritmo, por que não fizeram há anos atrás, quando estávamos começando”, questiona.
De acordo com Vadinho, a explicação apresentada pelo presidente do Conselho do Carnaval, Pedro Costa, quando questionado sobre o fato, foi de que os artistas de axé sairiam mais cedo e não tirariam o brilho dos desfiles tradicionais. “Estatisticamente, os blocos de samba são os que mais conseguem levar foliões para a Avenida nas quinta e sexta-feira à noite”, afirma.
entrevistado Nestor
Alisson Alves aprovou a invasão do axé. Foto: Nestor Carrera/Aratu Online
Já o público, interessado direto nesta “disputa”, parece ter aprovado a diversificação. Para Alisson Alves, 23 anos, frequentador assíduo do bloco Pagode Total, a questão não pode ser vista sob uma ótica negativa: “quem é do samba é do samba, nasce com isso. Nem Bell ou Ivete pode mudar. Além disso, o público que vem para Bell e Ivete também vai curtir o Alerta Geral e o Pagode Total”, pontua.
Edmilson Oliveira, 45 anos, tem opinião semelhante. Para ele, que está estreando na avenida do samba, os artistas de axé, sem cordas, conseguem reunir um número maior de pessoas e abrem uma nova opção para o público menos favorecido financeiramente. “Quem não tem abadá, sai na quinta-feira. Isso junta o público do samba com o do axé. E isso é ótimo”, analisa.
A questão é polêmica e não pode ser vista de uma única forma. A ideia de agradar o grande público, democratizando o acesso ao que o Carnaval tem de mais esperado em termo de atrações, não pode ser confundida com um esvaziamento dos blocos de samba, marca da tradição e diversidade que a maior festa popular do planeta sempre trouxe consigo e que deve ser mantida.Aratuoline)