domingo, 14 de dezembro de 2025

BAHIA REGISTRA 97 FEMINICÍDIOS ENTRE JANEIRO E INÍCIO DE DEZEMBRO

Por Aratu On

A Bahia registrou 97 casos de feminicídio entre janeiro e 8 de dezembro de 2025, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA). O número revela a permanência da violência de gênero em diferentes regiões do estado ao longo do ano, com maior concentração de ocorrências nos meses de abril e novembro. Salvador lidera o ranking de municípios com mais registros, totalizando dez feminicídios. Em seguida aparecem Feira de Santana, com cinco casos, e Camaçari, com quatro. Os dados reforçam que a violência contra mulheres não se restringe ao interior ou à capital, mas se distribui de forma ampla pelo território baiano.

Desde 2015, o feminicídio é tipificado no Brasil como homicídio qualificado, com penas mais severas quando o crime ocorre por menosprezo ou discriminação à condição de mulher/Foto: Reprodução.

O crime mais recente ocorreu no dia 6 de dezembro, em Luís Eduardo Magalhães, no oeste do estado. A jovem trans Rhianna Alves, de 18 anos, foi morta com um golpe conhecido como “mata-leão”. O suspeito, Sérgio Henrique Lima dos Santos, de 19 anos, apresentou-se à delegacia com o corpo da vítima e foi inicialmente liberado após alegar legítima defesa. A condução do caso gerou repercussão nacional e críticas de entidades de direitos humanos, especialmente diante da liberação do suspeito, que acabou preso e indiciado quatro dias depois.

PERFIL DAS VÍTIMAS REVELA DESIGUALDADES

A análise dos dados mostra que mulheres entre 30 e 34 anos são as principais vítimas de feminicídio no estado, representando 16,5% dos casos. As faixas etárias de 35 a 39 anos e de 40 a 44 anos aparecem logo em seguida, ambas com 15,5%. O recorte etário indica que a violência atinge majoritariamente mulheres em idade economicamente ativa, muitas vezes inseridas em relações afetivas ou familiares marcadas por dependência econômica e ciclos de agressão. O levantamento também evidencia o recorte racial da violência. A maioria das vítimas é parda (61,86%), seguida por mulheres pretas (14,46%) e brancas (4,12%). Mulheres indígenas representam 1,03% dos casos, enquanto em 18,56% dos registros não há informação sobre cor ou raça.

A Lei Maria da Penha prevê afastamento do agressor, proibição de contato e proteção policial, mas muitas mulheres não conseguem acesso rápido ou efetivo a essas medidas/Foto: Jonathan Lins/Secom.

VIOLÊNCIA DE GÊNERO NO PAÍS

Embora dados do IBGE indiquem que homens morrem mais do que mulheres no Brasil em números absolutos, o feminicídio se diferencia por sua motivação, o assassinato ocorre em razão do gênero da vítima, geralmente associado a relações de poder, controle e violência doméstica. Para pesquisadores da área, comparar os dados sem esse recorte pode invisibilizar a especificidade da violência contra mulheres. O aumento da sensação de insegurança no estado também se reflete em outras áreas do cotidiano. Iniciativas recentes, como o lançamento de novos recursos em aplicativos para bloqueio e recuperação de celulares roubados, surgem como resposta a um ambiente marcado por crimes frequentes. Ainda assim, especialistas alertam que medidas tecnológicas não substituem políticas estruturais de prevenção à violência e fortalecimento da rede de proteção. Diante do cenário, organizações feministas e de direitos humanos reforçam a necessidade de investimentos contínuos em educação, acolhimento às vítimas, investigação qualificada e responsabilização dos agressores. Fonte: Aratu On.