Por João Pedro Pitombo
Getty Images Getty ImagesSALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - O MPT (Ministério Público do
Trabalho) instaurou um inquérito para investigar as condições de trabalho dos
operários nas obras de construção da fábrica da BYD (Build Your Dreams),
montadora de carros elétricos chinesa que vai se instalar em Camaçari (50 km de
Salvador). Reportagem da Agência Pública publicada na última quarta-feira (27/11)
revelou que trabalhadores chineses de empresas terceirizadas que atuam na
construção da fábrica estariam sendo submetidos a rotinas de trabalho de até 12
horas por dia, sem folga semanal e sem equipamentos de proteção. Também há
relatos de agressões a funcionários, que teriam sido alvo de chutes e pontapés
por seus superiores, falta de água potável para os operários e alojamentos em
condições degradantes.
Em nota, a BYD informou que recebeu as imagens da denúncia
com repúdio e determinou que os agressores fossem afastados e proibidos de
ingressar na unidade. Também exigiu das empresas terceirizadas providências
urgentes para garantir que tais situações não se repitam. A montadora lançou a
pedra fundamental para construção da fábrica em outubro em 2023, em cerimônia
com a presença de executivos da empresa e do governador da Bahia, Jerônimo
Rodrigues (PT) e do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).
A BYD assumiu o parque industrial que era da Ford, montadora
norte-americana que atuou na Bahia entre 2001 e 2021. O complexo industrial
será composto por três fábricas, com investimento previsto de R$ 5,5 bilhões e
capacidade inicial de produção de 150 mil carros elétricos e híbridos por ano. O
procedimento de investigação foi instaurado pelo MPT a partir de uma denúncia
anônima recebida no dia 30 de setembro. Uma inspeção foi realizada dia 11 de
novembro na área onde a empresa está construindo sua linha de montagem. O MPT
informou que está reunindo informações para a apresentação de uma proposta de
ajuste de conduta ou uma ação judicial contra a montadora chinesa.
O órgão vai analisar os documentos solicitados à montadora e
a outras três empresas contratadas por ela para realizar a obra. Serão
analisadas cópias dos contratos de trabalho, vistos de trabalho para os
estrangeiros que atuam na obra, além de planos de prevenção de acidentes e de
saúde ocupacional. "As informações que colhemos até o momento apontam para
a necessidade de correção de procedimentos relativos ao meio ambiente de
trabalho, para garantir a saúde e a segurança dos empregados", informou o
procurador Bernardo Guimarães, responsável pelo inquérito. A BYD informou que
foram identificadas inconformidades em relação aos trabalhadores em Camaçari e
que exigiu que as prestadoras responsáveis pelas obras ajam imediatamente.
Também informou que funcionários receberam todo o suporte necessário e seguem
trabalhando na fábrica.
A empresa também afirmou que permanece comprometida em
colaborar com o MPT e que reforçou a fiscalização da obra para assegurar o
cumprimento da legislação e o respeito a todos os profissionais que nela atuam.
"A companhia opera há 10 anos no Brasil, sempre seguindo rigorosamente as
leis locais e mantendo o compromisso com a ética, respeito e a dignidade
humana", disse a BYD. Informação Economia Ao Minuto.