Por Clóvis Gonçalves
Durante uma das duas invasões à casa de um dos líderes da facção Comando da Paz (CP), Josevaldo Bandeira, o Val Bandeira, os filhos dele tiveram metralhadoras apontadas para suas cabeças. No último dia 28, no bairro de Santa Cruz, homens encapuzados e usando uniformes nas cores preto e cinza arrombaram a porta da casa de Val, procurando-o. Condenado por tráfico, ele foi beneficiado com liberdade condicional no último dia 26, após passar 15 anos preso. Segundo fontes ligadas à família do traficante, os invasores seriam policiais militares do Batalhão de Choque que, recentemente, ocuparam o complexo do Nordeste, região formada por quatro bairros (Nordeste de Amaralina, Santa Cruz, Vale das Pedrinhas e Chapada do Rio Vermelho).Os policiais pararam as viaturas em um local distante e seguiram a pé até a residência de Val Bandeira. A família pretende denunciar os PMs ao Ministério Público do Estado (MPE).
No dia 28, na localidade de Sucupira, a casa de Val Bandeira foi invadida em dois momentos distintos. Na primeira vez, todos dormiam. No imóvel estavam a mulher de Val Bandeira, que é pastora, os quatro filhos dele – uma jovem de 18, uma adolescente de 16, uma menina de 9 e um menino de 1 ano e 10 meses, além de duas adolescentes, uma de 17 e outra de 15, vizinhas da pastora. Por volta das 6h, os encapuzados uniformizados arrombaram a porta da casa e já chegaram com as metralhadoras em punho atrás do traficante. “Invadiram, xingaram todo mundo e depois miraram as armas na cara de todos, inclusive os filhos de Val”, contou a fonte ao CORREIO.
Em determinado momento, os encapuzados chegaram a dizer que iam “dar fim” em uma das filhas do traficante. “Vamos pegar essa aqui”, disse um dos homens armados, olhando para a menina de 9 anos. “Cada dia que ele não aparecer a gente dá o fim em uma”, comentou em seguida o encapuzado. O clima de terror durou aproximadamente duas horas e meia, quando o grupo decidiu deixar a casa. Mas, horas depois, eles voltaram a agir. Desta vez à noite, quando a mulher do traficante, uma pastora, estava na igreja.
Era por volta das 21h30 quando, novamente, o terror tomou conta da casa do traficante. “Jogaram gasolina e querosene pela casa e disseram: ‘se vierem para dormir, a gente toca fogo pra morrer todo mundo’. Um deles pegou uma faca e rasgou um sofá e depois aplicou golpes num armário como forma de intimidação”, relatou a fonte. Os encapuzados deixaram a casa pouco depois da meia-noite. O CORREIO procurou a Polícia Militar e perguntou o que a corporação tem a dizer sobre a denúncia de que policiais do Batalhão de Choque teriam arrombado e invadido a casa de uma das lideranças do CP. Por meio de nota, a PM respondeu que "não houve atuação da Polícia Militar nessa ocorrência".
TENSÃO NO NORDESTE DE AMARALINA
Na mesma semana em que Val deixou a penitenciária, a região onde ele mora registrou mortes e ataques a policiais militares. Três homens, entre eles um taxista, morreram em ataques provocados também por homens encapuzados. Na mesma noite, dois policiais militares foram baleados próximo à Travessa Sucupira, endereço declarado por Val Bandeira à Justiça, antes de ser liberado. O paradeiro dele é desconhecido. Um dos PMs foi ferido na cabeça. Ele foi internado em estado grave, mas não há informações sobre o quadro clínico.
Condenado por crimes como homicídio, tráfico de drogas e associação ao tráfico, Val continuava, segundo a polícia, controlando a venda de entorpecentes no Complexo do Nordeste de Amaralina, mesmo de dentro da cadeia. Considerado o número 1 do Comando da P, ele estava preso na Mata Escura e passou por Sessão de Livramento Condicional na 2ª Vara de Execuções Penais, em Sussuarana. Após a audiência, comandada pela juíza Maria Angélica Carneiro, ficou decidido que ele seria liberado com o dever de seguir determinações da Justiça.