sexta-feira, 28 de novembro de 2014

CONTRA A DEPRESSÃO, UM CONVITE Á ESPERANÇA

Por Clóvis Gonçalves

Em missa, pontífice convida fiéis a não se deixar deprimir, em meio a a uma realidade de 'guerras e sofrimentos'.
Francisco lançou um convite à "esperança", a não se deixar deprimir nem assustar por uma realidade feita de “guerras e sofrimentos”. O pontífice recordou como as grandes construções que ignoraram Deus estão destinadas a desabar. Foi assim para a "malvada Babilônia", que caiu na corrupção da mundanidade espiritual. Foi assim também para a "distraída Jerusalém", que caiu por ser "suficiente" a si mesma, incapaz de se dar conta das visitas do Senhor.

Assim, para o cristão, a atitude reta é sempre a "esperança", nunca a "depressão", disse o papa na missa de 27 de Novembro, dedicada à Bem-Aventurada Virgem da Medalha Milagrosa, amada pela espiritualidade das filhas da Caridade de são Vicente de Paulo, a congregação que presta serviço nesta Casa.

"Nestes últimos dias do ano litúrgico, a Igreja propõe-nos a meditação sobre o fim do mundo, os últimos dias". E "fá-lo com várias imagens e argumentos: amanhã serão evocados os sinais dos tempos". Mas "chama sempre a nossa atenção para o fim: a aparência deste mundo dissipar-se-á e haverá outra terra, outro céu; e este mundo será transformado".

Assim, "hoje meditamos sobre a queda de duas cidades que se afastaram do Senhor, que se sentiam satisfeitas consigo mesmas". Na primeira leitura, tirada do Apocalipse (18, 1-2.21-23; 19,1-3.9) João fala da queda da Babilônia enquanto Lucas, no Evangelho (21, 20-28) cita as palavras de Jesus sobre a queda de Jerusalém.

Contudo, "a queda destas cidades ocorre por motivos diferentes". Babilônia, "símbolo do mal e do pecado", tornou-se "covil de demônios, refúgio de espíritos impuros, de feras horrendas". Caiu "por causa da corrupção". É o próprio apóstolo que o diz: "Ela, a grande, corrompia a terra com a sua prostituição". Babilônia, frisou Francisco, “era corrupta, sentia-se dona do mundo e de si mesma, com o poder do pecado”. E “quando o pecado se acumula, ela perde a capacidade de reagir e começa a apodrecer”.

"Assim acontece também com as pessoas corruptas, que não conseguem reagir, porque a corrupção lhes dá um pouco de felicidade e poder, fazendo-as sentir satisfeitas, mas não deixa espaço ao Senhor, à conversão". Eis, então, o perfil da "cidade corrupta”. E “hoje a palavra corrupção diz-nos muito: não é só econômica, mas contém muitos pecados; é corrupção com o espírito mundano”. De resto, “a pior corrupção é o espírito de mundanidade”.

Com efeito, “Jesus orou muito ao Pai para preservar os seus discípulos do espírito do mundo, que nos faz sentir já aqui como no paraíso”. Mas “dentro, a cultura corrupta está podre: mais do que morta.... E isto não se vê”.

Babilônia é o “símbolo de qualquer sociedade, cultura ou pessoa que se afasta de Deus, do amor ao próximo, acabando por apodrecer em si mesma”. No fim, “Babilônia cai por causa da mundanidade, da corrupção afastando-se de Deus".

Ao contrário, "Jerusalém cai por outro motivo". Era "a esposa, a noiva do Senhor, que a amava muito!", mas “não se dava conta das visitas do Senhor, levando-o a chorar”: “Quantas vezes eu quis reunir os teus filhos como a galinha com reúne os seus pintainhos, mas tu não te deste conta do número de vezes que Deus te visitou!”.

Portanto, se “Babilônia caiu devido à corrupção, Jerusalém fê-lo por distração”; em síntese, “não se sentia carente de salvação: tinha os escritos dos profetas, de Moisés, e isto já lhe era suficiente”. Ma tais escritos estavam “fechados”. Assim, a cidade “não deixava espaço à salvação, mantinha as portas fechadas ao Senhor”: “Ele batia à sua porta, mas ela não o recebia e não se deixava salvar”; assim, acabou por ruir.

“Estes exemplos podem levar-nos a pensar na nossa vida: também nós, um dia, ouviremos o som da trombeta”. Mas “em que cidade estaremos nesse dia? Na corrupta e suficiente Babilônia? Na distraída e fechada Jerusalém?”. Contudo, no final ambas serão destruídas.

Mas “a mensagem da Igreja hoje não acaba com a destruição: há sempre uma promessa de esperança”. Com efeito, no momento em que Babilônia cai “ouve-se o grito de vitória: aleluia, felizes os convidados para o banquete de núpcias do Cordeiro! Aleluia, agora que tudo foi purificado começa o banquete!”. Contudo, aquela cidade “não era digna de tal banquete”.

Por outro lado “o texto da queda de Jerusalém consola-nos muito com esta palavra de Jesus: levantai a cabeça!”. O Senhor convida a “olhar”, a não se deixar “apavorar pelos pagãos”, pois “os pagãos passarão, e só os devemos suportar com paciência, como fez o Senhor com a sua paixão”. Eis então o convite de Jesus: “Levantai a cabeça!”.

O Pontífice concluiu a sua meditação com este apelo à esperança. “Quando pensamos no fim da nossa vida, do mundo – explicou – com todos os nossos pecados, com a nossa história pessoal, pensemos no banquete que nos será oferecido gratuitamente e levantemos a cabeça”. Não à “depressão”, sim à “esperança”! É verdade que “a realidade é feia: há muitos povos e cidades que sofrem; tantas guerras, ódio e inveja; muita mundanidade espiritual e corrupção”. Mas “tudo isto passará”. Eis o motivo pelo qual devemos “pedir ao Senhor a graça de estar preparados para o banquete que nos espera, com a cabeça sempre levantada!”. (Dom Total)