Por g1
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, durante discurso de abertura da sessão plenária da Cúpula do Clima em Belém, nesta quinta-feira (6), que "interesses egoístas e imediatos preponderam sobre o bem comum" quando se trata de preservação ambiental. A reunião de líderes desta quinta é o encontro preparatório para a COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas que será sediada pela capital paraense. Lula fez a fala de abertura do evento que reúne chefes de Estado e de governo de mais de 40 países.
"Para avançar, será preciso superar dois descompassos. O primeiro é a desconexão entre os salões diplomáticos e o mundo real. As pessoas podem não entender o que são emissões ou toneladas métricas de carbono, mas sentem a poluição", destacou o petista. "Podem não assimilar o significado de um aumento de um grau e meio na temperatura global, mas sofrem com secas, enchentes e furacões. O combate à mudança do clima deve estar no centro das decisões de cada governo, de cada empresa, de cada pessoa", prosseguiu.
O segundo problema, segundo Lula, é o distanciamento entre o
contexto geopolítico e a urgência climática. "Forças extremistas fabricam
inverdades para obter ganhos eleitorais e aprisionar as gerações futuras a um
modelo ultrapassado que perpetua disparidades sociais e econômicas e degradação
ambiental". Ele também cobrou menos recursos para fins de guerra, e mais
para a proteção ambiental. "Justiça climática é aliada do combate à fome e
à pobreza". Em vários momentos do discurso, Lula destacou a importância de
realizar um evento da magnitude de uma conferência da ONU em uma cidade na
região da Amazônia, no lugar de uma grande metrópole.
"Pela primeira vez na história, uma COP do Clima terá
lugar no coração da Amazônia. No imaginário global, não há símbolo maior da
causa ambiental do que a floresta amazônica. Aqui correm os milhares de rios e
igarapés que conformam a maior bacia hidrográfica do planeta. Aqui habitam as
milhares de espécies de plantas e animais que compõem o bioma mais diversos da
Terra", afirmou.
Em alinhamento aos discursos que tem feito sobre o tema,
Lula também lembrou que este é o "momento de levar a sério os alertas da
ciência", citando projeções que mostram milhares de mortes e prejuízos financeiros
com o avanço do aquecimento global.
"Rivalidades estratégicas e conflitos armados desviam
atenção de recursos que deviam ser destinados para o enfrentamento do
aquecimento global. Enquanto isso, a janela de oportunidades está se fechando.
A mudança do clima é resultado das mesmas dinâmicas que fraturam a nossa
sociedade entre ricos e pobres. Será impossível conte-la sem superar as
desigualdades entre nações".
O petista, que tem defendido a pesquisa de petróleo na Bacia
da Foz do Amazonas pela Petrobras, também afirmou que é necessário que os
países se afastem de combustíveis fósseis para reverter o desmatamento.
"A humanidade está ciente do impacto da mudança do
clima há mais de 35 anos, desde a primeira publicação do relatório [da ONU],
mas foi necessário 28 conferências para reconhecer a necessidade de se afastar
dos combustíveis fosseis e de parar de reverter o desmatamento", disse.
"Estou convencido de que, apesar das nossas
dificuldades e contradições, precisamos de mapas do caminho para, de forma
justa e planejada, reverter o desmatamento, superar a dependência dos
combustíveis fósseis e mobilizar os recursos necessários para esses
objetivos". A elaboração de um "mapa do caminho" contra o
desmatamento e combustíveis fósseis é defendida por entidades do clima, que
cobram a discussão do tema pelas autoridades e têm a expectativa de que esse
planejamento esteja na resolução final da COP30.
EVENTO EM BELÉM
Nesta quinta (6), líderes de países florestais tropicais e nações parceiras na agenda ambiental estão em Belém para um evento preparatório antes da COP30. A proposta é uma inovação promovida pela Presidência brasileira. Lula fez o discurso de abertura e, após a fala do presidente, os demais líderes apresentam seus discursos formais sobre o combate às mudanças climáticas e o financiamento da transição verde.
Vale destacar, no entanto, que nada será definido neste momento. A cúpula tem como objetivo traçar as diretrizes que irão nortear os próximos debates. Além disso, ao longo do dia, Lula participará de reuniões bilaterais, fará discursos e presidirá uma mesa temática sobre florestas e oceanos.
Ao meio-dia, Lula terá uma reunião bilateral com o príncipe
de Gales, William, e com o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer. O
encontro ocorrerá em uma sala reservada da Presidência e deve tratar de
cooperação climática e investimentos verdes, temas prioritários da política
ambiental brasileira.
Às 15h, o presidente se reunirá também com o presidente da
França, Emmanuel Macron, em uma segunda reunião bilateral. A expectativa é que
discutam projetos conjuntos de preservação florestal e financiamento
internacional para o Fundo Amazônia.
FINANCIAMENTO GLOBAL
As presidências da COP29 (Azerbaijão) e da COP30 (Brasil)
apresentaram oficialmente nesta quarta-feira (5), em Belém (PA), um plano
ambicioso: mobilizar ao menos US$ 1,3 trilhão por ano até 2035 para financiar
ações contra a crise climática, com foco nos países em desenvolvimento.
Batizado de Roteiro de Baku a Belém, o documento foi
elaborado em parceria entre as duas presidências e propõe novas formas de
arrecadar recursos, como taxas sobre aviação, bens de luxo e grandes fortunas
além de reformas no sistema financeiro global para liberar crédito e aliviar
dívidas de nações mais pobres.
O texto não tem força de tratado internacional nem será
objeto de negociação entre países, mas funciona como um guia político e técnico
para transformar promessas em dinheiro real. A ideia é criar um consenso mínimo
sobre como escalar e dar previsibilidade aos investimentos em adaptação (para
lidar com os impactos já inevitáveis, como secas e enchentes), mitigação (redução
das emissões de gases de efeito estufa) e transição energética (substituição
gradual dos combustíveis fósseis por fontes limpas).Fonte: g1.