Por Atarde
Jaqueline ( de azul) e equipe composta por mulheres -
Sob
o comando de Jaqueline da Silva Conceição, único mestre de obras mulher no
projeto, uma equipe formada exclusivamente por mulheres negras atua nas obras
do Lote 1 VLT de Salvador (Ilha de São João Calçada). Com cinco operárias, o
grupo desafia estereótipos e conquista destaque em um setor historicamente
dominado por homens. À frente do grupo feminino há cerca de 15 dias, Jaqueline
contou, em entrevista exclusiva ao Portal A TARDE, que liderar uma obra só de
mulheres tem sido uma experiência transformadora, tanto para ela quanto para o
ambiente de trabalho.
"Está sendo muito interessante levantar essa bandeira, porque no mundo que a gente vive, ainda existe muito preconceito e discriminação em relação à mulher nas obras. Muita gente ainda acha que lugar de mulher é em casa, mas nós temos que estar onde a gente quer estar," afirmou, ao destacar o orgulho de chefiar uma equipe composta por operárias com quem já havia trabalhado em outras frentes da construção civil. Ela relata que a confiança mútua foi fundamental para a formação do grupo."Eu pedi para selecionar as meninas, porque são pessoas com quem já trabalhei antes, e sabia que daria certo. Hoje somos seis comigo.”
Jaqueline da Silva Conceição, única mestre de obras mulher no projeto
Segundo
Jaqueline, a recepção no novo posto tem sido bem positiva: "Até agora, não
enfrentei resistência. Pelo contrário, muitos colegas ficaram felizes por me
ver liderando esse trabalho. Isso mostra que estamos avançando, passo a passo,
dentro da construção civil." Com orgulho evidente na voz, a mestre de
obras também fez questão de destacar que sua equipe feminina não fica atrás em
nenhuma etapa da obra. "Hoje eu acho muito importante porque a gente tá
com uma equipe que faz os mesmos serviços que o homem. A gente faz reparo,
acabamento, reboco, tudo," afirmou, com firmeza.
Ao
Portal, as mulheres lideradas por Jaqueline fizeram questão de ressaltar que
não apenas executam com excelência os serviços no canteiro de obras, mas também
enxergam no projeto uma oportunidade transformadora. Uilza Paula, pedreira,
destacou o impacto da iniciativa: “Tem sido legal esse projeto, abrindo portas e
dando oportunidade para as meninas de estarem executando e fazendo esse
trabalho maravilhoso. Estou aqui com minha líder, minha encarregada, e é sempre
dessa forma que a gente trabalha, com muito entusiasmo e responsabilidade.
Dessa forma, nós somos invencíveis.”
Cassileide
Bonfim, ajudante de pedreira, também evidenciou o seu sentimento de orgulho e
gratidão: "Está sendo uma oportunidade única de estar participando das
obras VLT junto com a nossa equipe, com Jaqueline, nossa primeira mulher
liderança no consórcio. É gratificante, mais uma oportunidade que estamos tendo
e que ela está nos proporcionando. Aprendendo mais e mais a cada dia neste
lugar. Então nós agradecemos não só o consórcio, como a Jaqueline pela
oportunidade de ter nos chamados para a equipe dela, para fortalecer mais ainda
a equipe de mulheres guerreiras do VLT.”
DA
FAIXINA À LIDERANÇA NO CANTEIRO DE OBRAS
Com
uma história marcada por determinação e paixão pela construção civil, Jaqueline
contou em conversa com o Portal como deu os primeiros passos na área,
enfrentando desafios e conquistando seu espaço até se tornar mestre de obras.
“Eu
sempre quis entrar nesse meio da Constituição Civil. Sempre achei bonito mulher
liderando”, relembrou. O início da trajetória se deu por meio de uma oportunidade
inesperada. “Entrei na área através do meu cunhado. Ele trabalhava no RH e
falou: "estão querendo mulheres por aqui, mas é para limpeza, você quer?" Aí eu
falei: aceito.” No entanto, o que parecia ser um trabalho temporário de faxina
se transformou em outra oportunidade.
“Mas
quando eu cheguei lá, eu não fui para a limpeza, fui para a parte da produção
mesmo. Aí fui ficando, fui gostando, fui pegando amor pela profissão e estou
aqui até hoje”, disse, acrescentando que pretende continuar se dedicando à
profissão, buscando seu crescimento na área e, futuramente, cursar uma
faculdade para se qualificar ainda mais.
MULHERES
NO COMANDO
Segundo
detalhou a Companhia de Transportes do Estado da Bahia (CTB) ao Portal, ao todo
são 193 mulheres, sendo:
Lote
1
157
mulheres
86
na mão de obra operacional
71
na parte administrativa
Atualmente,
as mulheres da área operacional estão trabalhando nas obras da via permanente,
instalações elétricas e mobilização social.
Lote
2
36
mulheres
7
na mão de obra
26
na parte administrativa
três
engenheiras
Nas
obras desse trecho, os serviços com participação de mão de obra feminina
concentram-se nos pontos de sinalização viária, além de atuarem na produção,
nas funções de carpintaria, armação e como serventes de obra. A contratação de
trabalhadores para as obras do VLT de Salvador e RMS é realizada diretamente
pelos Consórcios responsáveis, incluindo a mão de obra feminina tanto em
funções operacionais como sinaleiras, armadoras e carpinteiras quanto em
funções administrativas, a exemplo de assistentes administrativas, engenheiras
e biólogas.
No
Trecho 1, o consórcio responsável conta com um total de 1.516 trabalhadores. Já
no Trecho 2, o consórcio responsável possui ao total 430 trabalhadores.
BAIANOS
DOMINAM O VLT
As obras do modal contam com mais de 95% de trabalhadores baianos entre os contratados. Segundo dados do governo estadual, ao todo, desde o início das obras em junho de 2024, já foram gerados mais de 1.800 empregos diretos. Conforme detalhou a Companhia de Transportes do Estado da Bahia (CTB), no Trecho 1, que liga a Calçada à Ilha de São João, em Simões Filho, já gerou 1.516 empregos, sendo 95% deles ocupados por funcionários baianos. Atualmente, 26% das obras já estão concluídas.
á
o Trecho 2, que liga os bairros de Paripe e Águas Claras, está com 15,1% das
obras concluídas e conta com 301 trabalhadores, dos quais 98% são baianos. Enquanto
isso, o Trecho 3, que ligará Águas Claras a Piatã, na orla de Salvador, ainda
está na fase de elaboração dos projetos. O percurso terá 10,5 km de extensão e
contará com nove paradas ao longo do trajeto.
OBRAS
DO MODAL
Orçado
em mais de R$ 5 bilhões, o VLT de Salvador recebeu autorização para o início
das obras em junho de 2024. O modal visa substituir o antigo trem do subúrbio,
conectando a Ilha de São João, o Subúrbio Ferroviário, o centro e a orla da
cidade. No total, o modal terá 40 km, com 41 paradas. A expectativa é de que o
primeiro lote, que liga a Calçada até a Ilha de São João, seja entregue aos
soteropolitanos ainda no primeiro semestre de 2026.
As
obras estão divididas em três trechos simultâneos: o Trecho 1, da Ilha de São
João à Estação Calçada (16,7 km), sob responsabilidade do Consórcio Expresso
Mobilidade Salvador; o Trecho 2, de Paripe a Águas Claras (9,2 km), executado
pelo Consórcio VLT Lote 2; e o Trecho 3, de Águas Claras a Piatã (10,5 km), com
integração ao metrô no Bairro da Paz, a cargo do Consórcio Bahia Atlântico.
7
pontos para entender a liderança feminina nas obras do VLT de Salvador
Jaqueline,
a única mestre de obras mulher no projeto: sob o comando dela, uma equipe
formada exclusivamente por mulheres atua nas obras do VLT de Salvador,
desafiando estereótipos do setor da construção civil, historicamente dominado
por homens.
Equipe
feminina formada por profissionais de confiança: Jaqueline selecionou cinco
operárias com quem já tinha experiência, criando um grupo unido e confiável
para liderar a obra.
Liderança
que quebra preconceitos e discriminações: Jaqueline afirma que ainda há muito
preconceito contra mulheres na construção, mas destaca o orgulho de liderar e
mostrar que “lugar de mulher é onde ela quiser estar”.
Trabalho
duro: a equipe realiza todas as etapas da obra, como reparo, acabamento e
reboco, mostrando que as mulheres não ficam atrás em nenhuma função
operacional.
O
impacto transformador para as profissionais: operárias como Uilza Paula e
Cassileide Bonfim ressaltam o quanto o projeto abre portas, oferece aprendizado
e fortalece o empoderamento feminino no canteiro.
Trajetória
de Jaqueline - da faxina à liderança: Jaqueline começou na construção civil
pensando que ia realizar um trabalho de limpeza, mas quando chegou deu de cara
com outra realizada e foi para produção, onde descobriu sua paixão e, com determinação,
conquistou seu espaço como mestre de obras.
Participação
feminina no VLT em números - segundo a Companhia de Transportes da Bahia, as
obras contam com dezenas de mulheres nos lotes 1 e 2, atuando tanto na mão de
obra operacional quanto administrativa, incluindo funções como sinaleiras,
armadoras, carpinteiras, engenheiras e assistentes administrativas. Fonte de
Informação.