Durante anos muitos menores foram abusados em um centro da Igreja Católica, na Argentina. Ninguém quis ouvir as denúncias das vítimas ou seus familiares. Eram crianças, surdas e muito pobres. As vítimas ideais. Foi fácil convencê-las a não contar nada. E se contassem como aconteceu com algumas, ninguém iria acreditar nelas. Ainda hoje, com vinte e poucos anos, surpreendem advogados e promotores pelos rostos de terror que fazem em rodadas de reconhecimento quando veem o padre Corradi, de 82 anos. Colocam a mão na boca e fecham o punho. Ainda têm medo mesmo com ele na cadeia. São as crianças do Provolo de Mendoza (oeste da Argentina), um instituto para surdos onde foram cometidos abusos sexuais de todos os tipos durante anos contra menores, inclusive de cinco anos. Realizados principalmente por sacerdotes, às vezes com a ajuda de uma freira que testava meninas e meninos para encontrar os mais fracos e entregá-los aos sacerdotes.
“Várias testemunhas concordam. Primeiro, a freira Kumiko Kosaka batia nos menores para testá-los. Aqueles que resistiam, se salvavam. Os que eram submissos acabavam sendo abusados”, explica Sergio Salinas, advogado de várias vítimas e grande incentivador da causa apoiado por sua associação, Xumek. Uma menina de cinco anos, agora adolescente, foi repetidamente estuprada por Corbacho, outro padre do Provolo que está preso. “A freira a levava ao quarto do padre, sabendo o que acontecia, e um dia colocou uma fralda para esconder a hemorragia e levá-la ao refeitório. Doía tanto que não podia se sentar. Ela mostrava pornografia, fazia as meninas se tocarem. Eram crianças muito pobres, com famílias problemáticas, que pouco viam os filhos porque estavam internados. Além disso, os escolhidos eram aqueles que tinham mais dificuldade para se comunicar com os pais, que não conheciam a linguagem de sinais”, diz Salinas. Sociedade Oculta)